Artista, fotografe, não binária, produtora cultural, estudante de Design, filha de atriz, o teatro está no meu imaginário de criança, é nessa época que “começo a ser artista”, desse tempo para cá fiz técnico em administração (2010) e graduação em engenharia civil (2013-2017), somente em 2019 me reconheço enquanto artista, integro o grupo de pesquisa d’O Imaginário pela UFPE/CAA, onde pesquiso gênero, corpo e estética, no mesmo ano agrego ao coletivo @murallcolab, por onde, juntamente com minha amiga Rafa, realizamos feiras colaborativas, festas, e recentemente uma exposição de artistas da cidade de Santa Cruz do Capibaribe e região, A Asulancarte. Sou filha da Sulanca, e é olhando a feira, os tecidos, as sobras, a movimentação que passo a criar peças em alto relevo, através de retalhos de tecidos descartados. Atualmente ocupo o cargo de vice-tesoureire da Associação Cores do Capibaribe, que ampara, informa e apoia a comunidade LGBTQIAP+ de nossa cidade. Em 2022 produzi, juntamente com a Punctum Filmes, o documentário em curta metragem “DRAG É PODER”. Me debruço em vivências voltadas para a Sulanca, o Agreste, o Corpo e a Pluralidade de Gênero.

Esse processo de criação de significados e provocações a partir dos retalhos, surge em mim, como vasos ou veias que se enramam por meio de alguns significantes: A Sulanca é uma identidade própria da minha região e que historicamente, através de um processo de higienização dos termos, vem substituindo essa palavra por outras, a cidade que na década de 1980 era conhecida como a Terra da Sulanca, passou a ser chamada da Terra da Confecção e hoje, é considerada a Capital da Moda. Por reverência a minha terra, por um processo de autoafirmação, enquanto artista, eu faço Sulanca, transformo materiais descartados em objetos de apreciação e subversão. Buscando criar novos valores ao descarte e a Sulanca, meu desejo não é voltar ao passado, mas sim estabelecer um novo futuro através do que carregamos enquanto santacruzense, “capibaribeano”, sulanqueiro, agrestino e pernambucano. A criação segue um processo orgânico não necessariamente linear, que passa por etapas como a elaboração de um rascunho a mão de onde se deseja chegar, a concepção de um protótipo em formato digital para servir de molde nos recortes, seleção de uma paleta de cores a ser seguida, ou tecidos que
terão destaques na obra, bem como aquele que ficará na superfície mais a vista, aplicação dos recortes nos retalhos e através da colagem eu vou dando forma a minha obra, que, acredito nunca finalizar, porém chego em um determinado momento de construção que me satisfaço e ai eu paro.
